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Alfonso Bovero

E A ESCOLA DE ANATOMIA

Um artigo do professor de Anatomia Alfonso Bovero foi ilustrado por Lilly em 1926 na edição inaugural dos Annaes da Faculdade de Medicina de São Paulo.

Na edição inaugural dos Annaes da Faculdade de Medicina de São Paulo, primeira publicação científica da Faculdade e que começou a ser editada em 1926, o trabalho de Lilly ilustra um artigo do catedrático e professor de Anatomia Alfonso Bovero. O artigo, uma “nota preliminar”, era: “De Uma Especial e Constante Ossificação Endodural Prehypophysaria no Gen. ‘Bradipus’”.

Conforme escreveu o próprio Bovero: “Pretendo com esta breve nota, à qual dou simplesmente o valor de uma nota prévia, chamar a atenção dos morfólogos para um elemento ósseo por mim encontrado na espessura da dura mater da região prehypophysaria da basis cranii interna, na Preguiça comum”. Bovero, nas palavras do professor Edson Aparecido Liberti, “era um naturalista, queria associar a Anatomia com a Pesquisa e comparava com os animais e queria entender a evolução. Ele queria implantar uma filosofia de pesquisa”. [1]

No artigo dos Annaes de 1926 estão impressos três desenhos de Lilly, que reproduzem o tamanho natural, e duas fotografias de Alberto Federmann, com aumento de 2:1, em uma única página.

Alfonso Bovero nasceu em 1871, em Pezzeto Torinese, no Piemonte, filho de pai médico. Formou-se em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Turim em 1895. Por sua tese de doutoramento, “Intorno ai muscoli digastrici dell’osso joide”, defendida em 1895, recebeu o prêmio Reviglio, da Real Academia de Medicina de Turim. Foi aluno de Anatomia de Carlo Giacomini, principal figura da Escola Anatômica de Turim e autor de um tratado clássico de Anatomia humana.

Em 1897, fez curso de Histologia e Embriologia, com Hertwig, e de Anatomia, com Waldeyer, em Berlim. Chegou à Cátedra de Anatomia e Fisiologia no Instituto Superior de Magistério para Educação Física e, em 1902, tornou-se livre-docente em Anatomia Normal, Descritiva e Topográfica na Universidade de Turim. Entre 1909 e 1910, regeu a Cátedra de Anatomia da Universidade de Cagliari. [2]

Em 1914 foi contratado por Arnaldo Vieira de Carvalho para vir a São Paulo e assumir a Cátedra de Anatomia e no ano seguinte também a de Histologia na Faculdade de Medicina. Bovero trabalhou até o final de 1936 na Faculdade de Medicina, já incorporada à USP, depois voltou à Itália e em abril de 1937 faleceu em Turim.

Entre os desenhos realizados por Lilly, aqueles que acompanham trabalhos de Anatomia são os mais numerosos no período entre 1926 e 1956, incluindo as pesquisas e publicações de Alfonso Bovero e de seus discípulos, como Renato Locchi e Odorico Machado de Souza, que constituíram a “Escola Anatômica de Bovero” ou “Escola Anatômica de São Paulo”, como o próprio Bovero a designava. [3]

[1] Liberti, Edson Aparecido, “Arteriografia” da 1ª e 2ª Gerações da Família Anatômica de Alfonso Bovero. “Ramos” da Cidade de São Paulo. São Paulo, s/ed., 2008.
[2] Mota, André. “Il signore Alfonso Bovero: um anatomista ilustre na terra dos bandeirantes, São Paulo 1914-1937”, Rivista dell’Instituto di Storia dell’Europa Mediterranea, n. 6, giugno 2011, p. 355.
[3] Liberti, Edson A. “Arteriografia”: da 1ª e 2. Gerações da Família Anatômica de Alfonso Bovero. “Ramos” da Cidade de São Paulo. São Paulo, s/ed., 2008, p. 8.

Lilly Ebstein Lowenstein (1897-1966) viveu entre a ciência e a arte, desenhando e realizando fotografias nos campos da medicina e da zoologia. Em seu trabalho, Lilly conjugava o conhecimento técnico da fotografia e do desenho, o estudo das ciências e um notável talento estético. Nascida na Alemanha, ela estudou na Escola Lette-Verein em Berlim entre 1911 e 1914. Em 1925 imigrou com o marido e dois filhos para São Paulo. Em 1926, tornou-se desenhista e fotomicrógrafa da Seção de Desenho e Fotografia na Faculdade de Medicina (USP, a partir de 1934), da qual seria chefe por trinta anos a partir 1932. Entre 1930 e 1935 Lilly foi colaboradora do Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, principalmente da sua Seção de Ornitopatologia. Uma vida com arte dedicada à pesquisa e difusão da ciência.