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A ilustração de Anatomia

ORIGEM E EVOLUÇÃO

A história do desenho em Anatomia Humana tem marcos fundadores no século 16 com as obras de Leonardo da Vinci e de Andreas Vesalius e seu De Humani Corporis Fabrica.

A história do desenho em Medicina e em Anatomia Humana tem um marco inicial com Leonardo da Vinci e seus desenhos publicados por volta de 1510. Em seguida, foi publicado Commentaria super anatomia Mundini, de 1522, de Jacopo Berengario da Carpi (1460-1530), e De Humani Corporis Fabrica, em 1543, de Andreas Vesalius com ilustrações de Jan Stephen van Calcar.

Segundo Rifkin, Ackerman e Folkenberg, as ilustrações no livro de Vesalius foram revolucionárias: o corpo humano nunca havia sido desenhado com tal clareza científica e qualidade artística antes, o que foi reforçado pela qualidade do entalhe das gravuras e da impressão: “O resultado foi o mais acurado e detalhado e sólido conjunto de imagens do corpo humano jamais produzido naquela época e por um período posterior”. A “expressão” dos esqueletos torna o sofrimento e a mortalidade reais, humanos, e eles estão ali para contribuir com a Medicina. [1]

Conforme Friedman e Friedland, “nunca antes um livro de medicina possuíra tal altura e tal largura. Nunca antes um livro de medicina apresentara ilustrações de semelhante beleza artística e precisão anatômica, e nunca antes (nem depois) fora publicado um livro de Medicina com tão refinada tipografia”. [2]

A transmissão de conhecimentos por meio de ilustrações – e a nada óbvia ideia de que a ilustração informava – foi uma das mais expressivas contribuições de Vesalius à Anatomia, conforme Eduardo Kickhöfel: “Na época de Vesalius uma cultura visual lentamente iniciava sua formação, a qual diz respeito ao descobrimento de técnicas de ilustração desenvolvidas nos ateliês dos artistas renascentistas e à intensa atividade editorial da época, que lentamente descobria o ‘poder da ilustração’”. [3]

Até o século 16 os livros de Anatomia eram pobremente ilustrados. Durante cerca de 14 séculos, os conhecimentos de Anatomia haviam se baseado nos escritos do médico e cirurgião romano Claudius Galeno (150-200 d.C.), que acreditava que as figuras “corrompiam” o texto e, por isso, seus livros são descritivos e não ilustrados.

A passagem para a Renascença propiciou a conjugação de novas concepções humanistas e de desenvolvimentos na Medicina, na ciência e na arte, mas, acima de tudo, uma transformação no entendimento do lugar do homem na natureza e no mundo. Foi a partir do Renascimento que a utilização de ilustrações de Medicina começou a se estabelecer, partindo, de um lado, de um novo conhecimento do corpo humano que o imaginário medieval não concebia e, ao contrário, interditava e, de outro lado, da inédita associação entre ciência e arte que tornou a ilustração parte fundamental da informação científica.

Ao longo dos séculos 17 e 18, a ilustração teve várias escolas e acompanhou as tendências gerais e estéticas de cada época. O trabalho de Henry Gray (1827-1861) e os desenhos de Henry Vandyke Carter (1831-1897) no livro Anatomy, Descriptive and Surgical (Londres, 1858) pode ser considerado um marco nos padrões da ilustração a partir da metade do século 19. Para Rifkin, Ackerman e Folkenberg, as ilustrações desse livro se tornaram um “tour de force” e referência para trabalhos semelhantes: bem organizadas, lindamente desenhadas, em proporções legíveis e portáteis.

[1] Rifkin, Benjamin A., Ackerman, J. Michael e Folkenberg, Judith. Human Anatomy. A Visual History from the Renaissance to the Digital Age. New York, Abrams, 2006, p.16.
[2] Friedman, Meyer e Friedland, Gerald. As dez maiores descobertas da medicina. São Paulo, Companhia das Letras, 2008, pp. 27 e 30.
[3] Kickhöfel, Eduardo H. P. “A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a ciência moderna”, scientiæzudia, Vol. 1, n. 3, 2003.

Lilly Ebstein Lowenstein (1897-1966) viveu entre a ciência e a arte, desenhando e realizando fotografias nos campos da medicina e da zoologia. Em seu trabalho, Lilly conjugava o conhecimento técnico da fotografia e do desenho, o estudo das ciências e um notável talento estético. Nascida na Alemanha, ela estudou na Escola Lette-Verein em Berlim entre 1911 e 1914. Em 1925 imigrou com o marido e dois filhos para São Paulo. Em 1926, tornou-se desenhista e fotomicrógrafa da Seção de Desenho e Fotografia na Faculdade de Medicina (USP, a partir de 1934), da qual seria chefe por trinta anos a partir 1932. Entre 1930 e 1935 Lilly foi colaboradora do Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, principalmente da sua Seção de Ornitopatologia. Uma vida com arte dedicada à pesquisa e difusão da ciência.